terça-feira, dezembro 12, 2006

O Filme prepara-se para o "Assalto"... XIII



James -
Tudo bem, não faças essa cara. Sou o porteiro. (sai a correr)


Cena 3

Jim senta-se no caixote mais alto.

Jim – O James é um tipo ignorante. Às vezes parece um autêntico atrasado mental que vive como rei no meio de outros atrasados mentais. Para ele todos os problemas se resolvem com ameaças. E há sempre uma solução mais violenta para um problema onde a ameaça não funciona. É um frustrado em relação às mulheres. E todos os beijos que deu a raparigas foram pagos. Mesmo assim tem sempre a conversa de não precisar de mulheres nem de ninguém porque é um verdadeiro líder. Quando o conheci já ele era um oportunista. Ganhava pequenos trocados a mostrar os pelos púbicos e outras partes pudicas a velhotes pervertidos e asquerosos. A mim, sempre me enganou, fosse com as coisas que tirávamos dos contentores de lixo ou fosse com os trocos que nos pagavam na sucata do senhor Avelino. Faz-me confusão que não saiba ler nem escrever, que não tenha qualquer interesse pela arte ou pela cultura. Mas afinal de contas o que é que se pode esperar de um tipo que não sabe escrever o próprio nome. Presentemente é um menino de recados dos que controlam o quarteirão. Mas a verdade é que ninguém o conhece, pai, mãe, família, de onde veio… Uma vez ouvi-o a contar a uns putos que tinha sido lançado de pára-quedas num descampado, que andavam à procura dele e que precisava de se esconder. Nessa altura os putos arranjaram-lhe uma barraca de madeira junto ao rio com cadeado na porta e tudo. Até hoje.

Cena 4

Entra James.

James – Está feito.

Jim – Como foi?


James – Inventei algo sobre teres ido a uma reunião secreta de última hora.


Jim – E ela?

James – Mal me falou. Parecia desconfiada.

Jim – E mais?

James – Não te preocupes. Disse que voltavas logo à noite.

Jim – E se correr mal? Nunca mais a vejo.

James – O Job leva uma arma. Se alguma coisa correr mal disparamos para cima e corremos. Não estamos a pensar matar ninguém.

Jim – Pois. Mas não te esqueças que estou no lado de fora. E se for um de vocês a ser atingido e precisar de ajuda?

James – Bem… eu e o Job temos armas e… enquanto nos podermos proteger disparamos e corremos.

Jim – Correm para onde?

James – Pois é... Ainda não te tinha dito nada mas assim que terminarmos as coisas lá dentro, tu conduzes o carro do Job. É a tua segunda função.

Jim – Ou seja, eu estou do lado de fora e assim que vocês saírem de lá a correr piramo-nos no carro do Job.

James – E o carro tem de ficar ligado desde o início. Para evitar a perda de tempo.

Jim – Estou a ver. Parece tudo calculado ao pormenor como nos filmes.

James – Pois, mas nos filmes morre sempre muita gente e os tipos são sempre apanhados. De qualquer das formas o Job também me disse que está tudo calculado ao pormenor.

Quase a meio de "O Filme"... XII



James – Já passou algum tempo mas ainda posso lá ir se me disseres onde combinaram. Dou-lhe o recado como agente secreto e tudo em poucas palavras, sem sorrisos... e se tu quiseres nem trocas de olhares. Acredita. Nem chego a olhar para ela...

Jim – E tu vais como?

James –
A pé...


Jim –
Não é isso. Pergunto como é que vais vestido para o assalto.


James –
O Job disse para ser discreto. Só me pediu para levar um cão. Acho que é para dar um ar mais realista ao assalto. E no caso de as coisas correrem mal um cão grande sempre mete algum respeito e algum medo.


Jim –
E o cão?


James –
(sorrindo como se estivesse a ver o animal) Chama-se Fusco. É um cão de caça.

Jim – Pergunto onde está?

James –
(dirigindo-se para a janela) Costuma dormir-me à porta de casa. Até coloquei lá uma vasilha com água e outra onde ponho resto do jantar. (olhando pela janela para a rua) Está sempre lá.


Jim – E tem um ar feroz?

James –
É obediente. (fixando algo na rua)

Jim – Achas que serve?

James – (olhando para Jim)
Serve pois. Às vezes na brincadeira dou-lhe um pequeno pontapé e ele fica com um ar enraivecido, (olhando para a rua novamente) sobe o lábio de cima e mostra-me os dentes.


James avista a rapariga na rua.


Jim –
Coitado do animal.


James –
Parece-me que afinal a rapariga está a chegar.


Jim –
É tarde. Já não deve vir.


James – Parece-me que está a olhar para cá. (escondendo o corpo e espiando a rua)

Jim –
Porque é que não és tu a vestir-te de palhaço?


James –
Porque eu não tenho jeito nenhum para… (baixando-se e encostando as costas à parede que fica por debaixo da janela) Tu não estás a perceber. Acho que a tua rapariga está lá em baixo.


Jim – Quê? Não pode ser? (espreitando pela janela para a rua e vendo a rapariga)

James –
É ela? (baixando-se rapidamente)


Jim e James estão os dois de costas para a parede que fica por debaixo da janela


Jim –
É ela, não há duvida.


James –
Viste como está vestida? Parece-se uma daquelas actrizes de cinema com…


Jim
– Cala-te porco…


James
– Disseste que não voltavas a chamar-me porco.


Jim –
Cala-te e ouve-me.


James –
Se vais voltar a chamar-me porco outra vez…


Jim –
Não idiota. Vamos fazer como combinámos. Lembraste? Não a deixas entrar e faz como eu te disse. Eu saí há cinco minutos e tu és o porteiro. Percebeste?


James –
Claro que percebi. Só não percebo como é que "tipas" como esta te caem nas mãos.

Jim apressa-se responder a James mas este interrompe-o.

James - Tudo bem, não faças essa cara. Sou o porteiro. (sai a correr)

segunda-feira, dezembro 11, 2006

O "Filme" cresce - XI




Jim – É melhor mudarmos para outra conversa.

James –
Não quero saber de conversa nenhuma…


Jim –
Não queres saber quem é que perguntou por ti? A Mary da loja das flores.


James – (entusiasmado) Por mim? Ela perguntou por mim? ela disse “James”? Tens a certeza que foi “James” que ela disse?

Jim –
Perfeitamente. (reproduzindo as palavras de Mary) “Diz ao James…”. Sem duvida. Foi isso. Foi exactamente o que ela disse. “Ao James!”


James – (muito entusiasmado)
Se disse James, então estava a falar de mim. O que te disse ela. Diz-me o que te disse. Perguntou por mim?


Jim –
Disse-me para te dizer para a deixares de seguir depois do trabalho. Ou qualquer dia vira-se a ti.


James – (intimidado)
Foram duas vezes.


Jim –
Também me disse que conhece bem a gente da tua laia, (fixando James com um ar revoltado) que um dia destes nos denuncia a todos por prostituição e que lhe custa acreditar que um tipo interessante como eu ande no meio de velhos de cinquenta anos a vender…


James – (desculpando-se) Ela dá-se bem com o Job. Ele deve ter-lhe dito alguma coisa…

Jim – (irritado) Que vergonha! Não consigo perceber como é que depois de tantas humilhações continuas a ser o fantoche do Job.

James –
Não sou o fantoche de ninguém.


Jim –
Tu mesmo disseste que nem sabes ao certo o que vamos roubar. Não achas que o Job te devia ter dito? Ao menos ficavas a saber de tudo.


James –
Sei o importante. Que lhe deves uma pipa de massa. Aí uns trinta pintores. E que por isso eu fico também com a tua parte.


Jim – E ficas com a minha parte do quê? O que é que é a minha parte?

James –
O que é que isso te interessa? Devias é estar preocupado com essa rapariga que ainda não chegou.


Jim –
Deve estar a chegar. Do café Rouge até aqui ainda são uns bons vinte minutos.


James –
Cá para mim, fartou-se de esperar e em vez de vir para cá, foi para casa. Não te parece?


Jim –
Não sei. Em todo o caso vou-me preparando. Vou ter de pintar os sapatos.


James –
Detesto palhaços.


Jim –
Um nariz…


James – De qualquer das formas quanto mais convincente melhor.

Jim –
Achas que pinte o cabelo?


James –
Não. Leva antes um chapéu.


Jim –
Passa-me aquele casaco.


James –
Está praticamente novo. Vais estraga-lo?


Jim –
É antigo. Já não se usa. A rapariga provavelmente já não deve aparecer. Não… não aparece de certeza.

domingo, dezembro 10, 2006

Liberdade para tudo...


Sempre detestei alturas como esta.

Este relinchar de cavalgaduras hipócritas, anunciando pequenos trechos de felicidade roubados de uma qualquer composição artistica.
Ainda assim, contento-me com o sorriso de quem se sente fugazmente feliz e gosta.

Cerca de 5 a 20 milhões de pessoas falecem por ano por causa da fome e muitas delas são crianças.


Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm?
Dos que não são cristãos?
Ou de quem trás às costas
as cinzas de milhões?
Natal de paz agora
nesta terra de sangue?
Natal de liberdade
num mundo de oprimidos?
Natal de uma justiça
roubada sempre a todos?
Natal de ser-se igual
em ser-se concebido,
em de um ventre nascer-se,
em por de amor sofrer-se,
em de morte morrer-se,
e de ser-se esquecido?
Natal de caridade,
quando a fome ainda mata?
Natal de qual esperança
num todo bombas?
Natal de honesta fé,
com gente que é traição,
vil ódio, mesquinhez,
e até Natal de amor?
Natal de quê? De quem?
Daqueles que o não têm,
ou dos que olhando de longe
sonham de humana vida
um mundo que não há?
Os dos que se torturam
e torturados são
na crença de que os homens
devem estender-se a mão?

Jorge de Sena

Ainda na Cena 4 de "O Filme..." - X


Jim –
(acalmando-se) E esse assalto é para quando?


James -
O Job diz que só tens de estar preparado. Eu no teu lugar começava a preparar-me agora.

Jim – (Pensativo e sem prestar atenção a James) Bem… Isso muda tudo…

James – Eu no teu lugar começava a pintar-me e deixava esse encontro para amanhã.

Jim – (Continuando sem prestar atenção a James) … E sendo que já passaram mais de dois quartos de hora…

James –
Na melhor das hipóteses dizias-me onde combinaram e eu ia lá dizer-lhe que não podes. Era o que eu fazia no teu lugar…


Jim –
(Pensativo) … E o mais certo é ela estar à minha espera ou estar a vir para cá…


James –
Definitivamente era o melhor. Enquanto te pintavas eu ia lá…

Jim – (interrompendo James) Cala-te porco.

James –
Se continuas a chamar-me porco…


Jim –
Fazemos o seguinte. Ficamos cá os dois. Eu tenho de me vestir para o assalto, certo? Se ouvirmos tocar, tu vais lá abaixo e dizes a quem quer que seja que és o porteiro e que eu saí há cinco minutos.


James –
Porteiro? Não posso simplesmente dizer que sou o James, que também vim procurar-te, que já toquei e não estás cá.?...


Jim –
Para dizeres que és o James tens de estar lá fora e esperar que as pessoas cheguem. Se disseres que és o porteiro é natural que tenhas as chaves para aqui estar e não tens de esperar por ninguém.


James –
Mas nesse caso tenho de estar cá a fazer alguma coisa. Não posso estar simplesmente aqui como se estivesse a vasculhar as tuas coisas.


Jim – Limpezas.

James –
Limpezas? Pode ser perigoso. Sou alérgico a este tipo de pó. Tens a certeza que não queres que vá lá avisá-la. Parece-me menos complicado. Eu ia ter com ela…


Jim –
(ironizando) Claro, claro! (apontando para um dos caixotes) Põe aquele avental.


James –
(pegando no avental) … E quando a encontrasse dizia-lhe que era da policia ou dos serviços secretos…


Jim –
E dizes que não sabes o que é que vão roubar?


James – (observando o avental)
E que estavas a trabalhar connosco numa investigação qualquer…


Jim –
Perguntei-te se não sabes o que vão roubar?


James –
(atirando o avental para cima do caixote) Em vez de James podia dizer-lhe que me chamo Victor. Exacto, Victor!


Jim – Tu ouviste o que eu acabei de te perguntar?

James –
Ela sorria para mim…


Jim –
Cala-te porco. Pensas que todas a mulheres são iguais?


James – (irritado) Se continuas a chamar-me porco conto a toda a gente que já nos beijámos.

Jim –
Que idiota! Éramos miúdos.


James –
Pois, mas foi mais que uma vez e quando eu não queria tornavas-te agressivo e não me falavas.

quarta-feira, dezembro 06, 2006

Um pouco mais de Filme, por obséquiu! - IX


Jim está de costas para James


Jim – (levando a mão à cara e sussurrando) Cabrão de merda! (irritado) Não vês que estou atrasado! (ironizando) Falamos amanhã, pode ser?

James – Não creio que isso seja possível. Já te disse que é um trabalho sério. Mais. É para hoje.

Jim – Hoje?

James – Rua Constantino. O Job precisa de alguém que se vista de palhaço para entreter as pessoas enquanto nós entramos nos correios.

Jim – E dizes que é um trabalho sério? Pode saber-se o que é que eu ganho com esse trabalho sério?

James – O Job diz que ganhas a possibilidade de ele não te dar uma nova sova. Foi exactamente o que ele disse. Também falou em usar uma arma de fogo, mas não me lembro bem em que situação.

Jim – (sussurrando) Grandes chulos.

James – (descontraído) Só tens de vigiar. Depois vens para casa. Nem sei bem o que é que vamos lá roubar.

Jim – (pensativo) Então é um assalto.

James – (olhando para a janela) Olha. Parou de chover.

Olham para as botas, um do outro, sentam-se no chão e começam a tirá-las.

James – Tens estado pouco em casa. Ainda ontem estive aqui. Duas vezes de manhã e quatro de tarde. É a tal miúda, não é? Ias ter com ela?

Jim – (atirando as botas a James) Que tens tu a ver com isso?

James – (atirando as botas a Jim) Deves estar apaixonado ou algo do género.

Os dois calçam-se.

Jim – Em vez de andares a fazer de menino de recados do “Job disse, o Job fez, o Job mandou”, podias arranjar uma vida para ti.

James – Dizes isso porque já experimentaste...

Jim – Cala-te porco.

James – (de ar compenetrado e desabafando) Nunca estive com uma mulher. Não dessa maneira.

Jim – Cala-te. Devo estar atrasado, pelo menos dois quartos de hora. Culpa tua.

James – Ainda é cedo. Podias levar-me. Eu ficava só a ver.

Jim – Cala-te, já te disse. Grande porco

James – Porco porquê? (reproduzindo as palavras de Jim) “Então ficámos coladinhos um ao outro. Ela não me largava por nada… tinha umas ancas e um peito que até dava vontade de morder”…Lembraste? Como tu me contaste.

Jim – E tu contaste a toda a gente no Café Rouge como se fosse um trailler erótico, porco. Pagaram-te bem, não?

James – (admirado) Três pintores. Dividi-os contigo.

Jim – Mas tinha-te dito para não dizeres nomes.

James – Não falei no nome da rapariga.

Jim – És um porco, é o que és.

James – (fazendo-se de vítima) Podia dizer o nome dela, mas não disse.

O Filme da Tua Vida é este - VIII

Cena 4


James entra e mostra-se contente por ver Jim.

Jim –
O que é que quer
es?

James
– Finalmente! E então? Como vai a música desde a última vez que a ouvi. Aquilo estava giro, pá! Mas como um todo não funciona. E se escrevesses em estrangeiro sempre tinhas mais hipóteses…

(Interrompido por Jim)


Jim –
Perguntei-te o que é que queres? Acabou-se-te o tabaco, foi? Estou mesmo de saída.


James –
De saída? Está a chover. Começou quando subi as escadas.


Jim – Outra vez? (espreita pela janela) Que pouca sorte. Empresta-me as tuas botas. São de borracha, não são!

James –
(tirando as botas) Tenho uma proposta para te fazer. Indirectamente, claro.


Jim –
Não me digas. Uma proposta.


James –
Não posso ficar descalço. (entregando as botas a Jim)


Jim –
(calçando as botas) É mais uma das tuas propostas onde eu acabo no meio de velhos de cinquenta anos a prostituir-me?

James – (fixando as roupas de Jim) É um trabalho sério. E não sou eu que organizo. (apanha os sapatos de Jim e calça-os)

Jim –
James, meu camarada… não estou interessado e… (acabando de calçar as botas) E estou atrasado. (dirigindo-se para a porta)


James – (puxando de um cigarro) O Job diz que lhe deves uma pipa de massa e que um dia destes aparece por aqui… para te destabilizar a vida de lorde. (olhando pelo canto do olho para Jim) Estás com medo ou quê?

O Filme continua - VII


James sai do palco e logo a seguir ouve-se tocar à porta.


Cena 3

James – Jiiiiiimm! Jiiiiiimm! Sei que estás aí. É o James. Jiiiiiimm!

Jim – (Lamentando-se) Depois deste tempo todo, este gajo outra vez…

James – Jiiiiiimm! Tiveste saudades minhas?

Jim – Grande idiota.

James – Jiiiiiimm!

Jim – (Dirigindo-se para a janela) Sóóóóóbe! (sussurrando) Imbecil.

Jim pega na guitarra e senta-se no cadeirão.

Muda-se a pelicula, mas permanece o Filme - VI


Cena 2


Entra James com um cigarro na boca e à procura do isqueiro. Procura nos bolsos de cima, depois nos bolsos das calças. Não o encontra. Tira o cigarro da boca e faz como que uma apresentação de Jim.

James – Este é o Jim. O Jim é um tipo que tem a mania que é artista. Para ele tudo se resume ao génio. Mas o importante mesmo é que as pessoas cheguem a um ponto em que, ter dez minutos de conversa na rua com ele, é um privilégio. Ou seja, futuramente todos deverão estar cientes de que ele é um tipo deveras interessante. Mais. É uma irresponsabilidade não ouvir as reflexões realmente inteligentes que ele tem para partilhar. Costuma sentar-se no Café Rouge. É tão viciado naquele sítio que se o mundo acabasse amanhã lá estava ele ao balcão a observar os rapazes a jogar. Nunca o vi pegar um taco de bilhar mas está constantemente a fazer comentários, sempre muito activo. – “Joga à amarela e manda a branca para cima da mesa. Não. A vermelha não. Põe a três no buraco do fundo e puxa a oito para trás.” O Jim tem uma daquelas bicicletas antigas, toda preta, igual à dos velhos. É mais para impressionar. Tal como o exemplar de “A Origem da Tragédia” de Nietsche. As raparigas estrangeiras que por cá aparecem para os seus “holidays” adoram vê-lo de livro na mão, com um daqueles pequenos rádios para gravar a voz. “Diário de Jim, 14 de Março de 1978. Vagueio pela Praça do Município…” A verdade é que as pessoas cansam-se rapidamente dele. Nos primeiros cinco minutos de diálogo surge a conversa dos diplomas e dos cursos que tirou mas nunca trabalhou a sério para ninguém. De quarta a sábado trabalha no Teatro Central a desentupir sanitas e é o responsável pelo bom funcionamento dos autoclismos. Aos domingos vai pôr flores à mãe. Diz que dá sorte. O resto do tempo passa-o em casa ou comigo. Não somos grandes amigos, mas não nos damos mal. Sempre que posso ganho dois ou três pintores à custa dele. O que está cada vez mais difícil. Há cerca de duas semanas conheceu uma rapariga e nunca mais o vi. (Dirigindo-se para a porta da entrada.) Disse-me que não era nada de especial mas dormiram juntos e tudo. De certeza que está apaixonado.
É um tipo que fala muito, o Jim. Ultimamente quando apareço por cá a primeira coisa que me diz é, “O que é que tu queres”- e a verdade é que me irrita bastante quando o diz.

James sai do palco e logo a seguir ouve-se tocar à porta.